"12 Angry Men"
- blogpsicologiacdll
- 5 de fev. de 2024
- 5 min de leitura
Olá caros passageiros! Hoje visitamos Hollywood, onde poderão encontrar a nossa primeira recomendação de filme: "12 Angry Men". Este filme, que estreou em 1957, segue o processo de decisão de 12 jurados acerca de um crime cometido por um jovem porto-riquenho com um passado trágico. Os jurados, oriundos de contextos socioculturais muito diferentes, têm a tarefa de votar a condenação, ou não, do réu, que assassinou o seu próprio pai, de acordo com as provas que foram expostas em tribunal. Além disso, estes 12 homens são instruídos a votar “guilty” se acreditarem que o jovem é culpado do crime e “not guilty” se tiverem a mais pequena dúvida de que o réu não cometeu o crime, visto que a pena é a morte.
Assim, este filme envolve o espectador no drama da ação, apresentando vários exemplos para diversos conceitos da psicologia social que iremos explorar, que serão os seguintes:

Conformismo
O conformismo é uma forma de influência social de expressão implícita em que um indivíduo altera o seu comportamento de modo a aceitar a opinião ou norma de uma maioria devido à pressão que sente para se enquadrar.
Esta necessidade de se integrar através do conformismo é influenciada por alguns fatores:
Unanimidade: O conformismo é maior nos grupos onde há unanimidade
Resposta pública ou privada: O conformismo aumenta quando a resposta é dada em público
Ambiguidade da situação: Quanto mais ambígua é uma situação, maior é a pressão para o conformismo
Autoestima: Indivíduos com menor autoestima têm tendência para se submeter à norma do grupo.

De facto, na primeira votação dos jurados, que é realizada de forma não secreta levantando o braço, é visível que, após a maior parte votar "culpado", os restantes homens acabam por se conformar, levantando o seu braço de forma hesitante. Nesta situação, apenas um jurado (interpretado por Henry Fonda, figura 1) se opõe. Assim, é possível verificar que os fatores 1, 2 e 3 acima explicados, afetaram as decisões dos jurados. Na verdade, a situação pode ser considerada algo ambígua(2), visto que existe margem para dúvida, sendo também quase unânime(1), o que acaba por influenciar algum dos jurados mais hesitantes. Para além disso, o facto de a votação ter ocorrido de forma pública levou a que mais indivíduos votassem "culpado", o que se confirma quando, em votações seguintes que ocorreram de forma secreta, o número de indivíduos a votar "não culpado" aumentou, visto que a anonimidade permitiu diminuir a pressão de ter de justificar as suas razões ao grupo(3).
Fica aqui um excerto do filme, onde se pode visualizar a primeira votação:
Dentro do conceito de conformismo, existe o conformismo informativo e o conformismo normativo. O primeiro relaciona-se com a aceitação de uma dada informação como verdadeira em situações ambíguas, admitindo a opinião de outra pessoa como verdadeira, pois o próprio indivíduo que se conforma acaba por considerar que os pontos de vista dos outros (geralmente alguém que se destaca como uma figura de autoridade ou que imponha as suas percepções da realidade como sendo corretas) são válidos e verdadeiros em detrimento das suas próprias noções acerca do assunto.
Já o conformismo normativo consiste na tendência que um indivíduo tem para alterar o seu comportamento para seguir a norma imposta por uma maioria, de modo a não contrariar o grupo, visto que, regra geral, quem se opõe à opinião da maioria é prejudicado.
De facto, ao longo do filme, estes conceitos são representados de forma clara. Por exemplo, o jurado 3 e o jurado10 (Figura 2), assumem-se como figuras de autoridade, afirmando que não existiam dúvidas de que o jovem era culpado. Deste modo, refutam a opinião dos outros jurados à medida que alteram o seu voto, chegando mesmo a troçar dos mesmos, fator este que é propício ao conformismo.

Para além disso, o conformismo informativo destaca-se na figura do jurado 12 que muda o seu voto de acordo com os argumentos a favor da votação "não culpado" e com os argumentos contra a votação em "não culpado", não formando uma opinião própria acerca do assunto e aceitando as pontos de vista dos outros.
Persuasão
A persuasão é um processo através do qual é possível alterar a atitude de outro indivíduo. Ao longo do filme, várias personagens recorrem à persuasão para convencer o resto do grupo acerca do veredito. Segundo os psicólogos sociais Richard Petty e John Cacioppo, existem duas rotas de persuasão: Central e periférica.
O jurado 8, bem como o jurado 4, recorrem à primeira rota, que consiste na alteração da opinião dos outros recorrendo a argumentos válidos, baseados em factos e comprovados empiricamente. Desta forma, os indivíduos persuadidos ponderam cuidadosamente as razões que lhe são expostas, avaliando quais são as mais razoáveis e coerentes. Efetivamente, este tipo de persuasão é sublinhado quando o jurado 8 recorre a uma imagem do layout do apartamento (ver o vídeo abaixo ) onde ocorreu o crime para evidenciar que as provas em relação ao facto de o vizinho ter visto o jovem a fugir do local do crime não eram completamente viáveis, pelo que o réu não era necessariamente culpado.
Já o jurado 3 e o jurado 10 recorrem à segunda rota de persuasão, a periférica, através da qual o persuasor destaca elementos periféricos ao argumento primário, fundamentando as suas razões nos mesmos. Desta maneira, o jurado 3, por exemplo, recorre a preconceitos relacionados com a etnia do jovem para persuadir o grupo de que o mesmo era culpado, ainda que grande parte do seu argumento não se baseasse em factos, como é visível no vídeo seguinte:
Em geral, a personagem interpretada por Henry Fonda apresenta uma grande capacidade de persuasão, recorrendo aos factos e à ambiguidade de determinadas informações relativas ao caso para, aos poucos, modificar o ponto de vista dos restantes jurados. Na verdade, o facto de não ter nenhum interesse pessoal na situação contribui também para a sua capacidade persuasão. Ao longo do filme, esta personagem consegue os jurados vão mudando de opinião, conseguindo mostrar de forma astuta que nenhuma das provas que lhes fora apresentada era completamente infalível , não sendo possível ter a certeza absoluta de que o jovem era realmente culpado do crime, pelo que seria imoral votarem "culpado" e condenar o réu à morte.
Em suma, caros viajantes, este filme é um excelente exemplo do modo como a pressão de um grupo pode afetar as nossas decisões, levando muitas vezes ao conformismo. Na minha opinião, o filme ilustra de modo muito interessante o conceito de persuasão, através da personagem interpretada por Henry Fonda (não é a única mas é a mais evidente), conseguindo cativar a atenção do espectador através das técnicas que utiliza, conseguindo contradizer a maior parte dos argumentos que lhe foram apresentados para culpar o jovem de modo cómico e perspicaz.
Recomendamos a visualização do filme para perceberem melhor este artigo.
Se não se importarem de ver o filme com as legendas automáticas do youtube, é possível visualizar este filme através do link seguinte:
Esperemos que tenham gostado, caros passageiros. Até à próxima!
A vossa agência de viagens preferida, MindJet.
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